24.7.07

vício


e agora, você se reúne, todas as quintas-feiras, pra tratar do seu problema, sentada em círculo. levando o tempo contado, em uma caderneta de capa amassada. tantos dias, tantas horas. minutos, comemorados com aplausos. e agora, você espera por seus encontros semanais, achando que será simples. assim. desintoxicação garantida. memória apagada. a vida esquecida. e agora, você faz de conta. finge que não existo. rasga fotos. cartas. risca discos. dedo na garganta, agora, você me vomita. todas as noites. ajoelhada sobre o piso frio. gasta suas madrugadas na tentativa de limpar o que sobrou por dentro. e agora você foge. rejeita o que já tomou como droga. me amaldiçoa como seu vício.

12.7.07

cacos


até quando seus copos? os pratos atirados. a toalha puxada de repente lançando a louça no chão. até quando suas taças? seus cristais. as garrafas com restos de vinho. os bibelôs de vidro da sua estante. até quando? até quando suas estátuas? suas xícaras. seus vasos. seus jarros. até quando seus objetos jogados na minha frente? pés cortados. rasgo atravessando a sola. o sangue deixando pegadas. até quando você fazendo do meu caminho um chão apenas de cacos?

4.7.07

casa


"a casa foi vendida com todas as lembranças. todos os móveis. todos os pesadelos. todos os pecados cometidos ou em vias de cometer. a casa foi vendida com seu bater de portas. com seu vento encanado. sua vista do mundo. seus imponderáveis."
[carlos drummond de andrade]