25.10.07

entre os papéis, um verso


"vês! ninguém assistiu ao formidável enterro de tua última quimera. somente a ingratidão, esta pantera, foi tua companheira inseparável. acostuma-te à lama que te espera. o homem, que nesta terra miserável, mora entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera. toma um fósforo. acende teu cigarro. o beijo, amigo, é a véspera do escarro. a mão que afaga é a mesma que apedreja. se a alguém causa ainda pena a tua chaga, apedreja essa mão vil que te afaga, escarra nessa boca que te beija."

[augusto dos anjos]

22.10.07

espantalhos


medos. olho ao redor e eles estão por todos os lados. como espantalhos de braços abertos, espalhados pelo milharal. pequeno pássaro, eu só queria ignorá-los pra poder sobrevoar pelo menos uma vez todo esse campo amarelo.

10.10.07

sopro


e então você foi encolhendo. diminuindo aos poucos. minorando a cada dia. no fim, já era possível te ter entre o polegar e o indicador. te arrancar da minha vida com um simples sopro.

5.10.07

brinquedo


pancada. mais uma pancada e sou o mesmo garoto tolo, de calças curtas, batendo a cabeça naqueles espelhos. insistindo, teimoso, nas saídas falsas do brinquedo. talvez tudo ainda seja mesmo um parque de diversões. talvez eu ainda seja a mesma criança, tateando pelas paredes. perdida no escuro dos corredores, gritando para ninguém, agora, com a certeza de que este labirinto imenso não tem saída.