27.11.07

patos


eu atiro e ele cai. e outro. e mais um. sonho que mato todos os que me incomodam, como no brinquedo do parque de diversões. patos de madeira, mal-pintados. bicos pretos descascados, eles passam enfileirados sob a mira da arma de rolha. fecho um olho. alinho o outro ao alvo, atiro e eles caem. eu não erro. no sonho, os que me incomodam me deixam em paz. compro mais fichas. volto pra fila. eu me divirto. no sonho, eu não me mato. viro a arma e atiro neles. um. e outro. e mais um. no sonho, todos caem.

16.11.07

pássaro


e, então, não há mais lugares para pousos. condenado a bater as asas para sempre, morro porque, agora, só se cultivam espinhos em todos os jardins.

8.11.07

lâmina


e quando menos se espera, acontece uma outra vez. palavras. promessas. tapete vermelho, estendido por metros, tornando o chão macio. sem obstáculos. maquiando a terra, imunda, que existe por baixo dos sapatos. sempre assim, de repente. quando menos se espera, o caminho, que parecia levar para um lado, oferece outro fim. morro por isso. mais uma vez. por acreditar no que havia me garantido: mentiras entre sorrisos. morro mais uma vez por não imaginar que suas mãos me traziam até aqui. guilhotina. cabeça apoiada, mãos acorrentadas, morro mais uma vez com a queda repentina desta lâmina. com o golpe que me divide em dois.

6.11.07

vômito


e agora, apenas o enjôo. nunca mais o vômito, no meio da madrugada. e agora, tudo o que sai vem da ponta desses dedos tristes. em palavras que não paro de apagar.