29.10.09

satyrianas




entre 30 de outubro e 02 de novembro, a praça roosevelt e outros espaços culturais da cidade serão palcos da 10ª edição do festival satyrianas 2009. o evento reúne teatro, cinema, artes plásticas e música durante 78 horas ininterruptas e, neste ano, comemora os 20 anos da cia. de teatro 'os satyros'. no espaço 'dramamix', voltado à nova dramaturgia, autores convidados apresentam peças de até 20 minutos a cada hora. e meu 'banquete' estará nessa. se puder, apareça. será na madrugada de sexta para sábado:

01h: freudislândia: onde tudo se explica!, de hugo possolo
02h: gente fina, de cilene guedes
03h: quero ser xico sá, de roberto moreno
04h: banquete, de eduardo baszczyn
05h: bílis, de zen salles


[programação completa aqui]

27.10.09

o amor?


"o amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. o amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. comeu meus cartões de visita. o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. o amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. comeu metros e metros de gravatas. a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. o amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos. o amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-x. comeu meus testes mentais, meus exames de urina. o amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. comeu em meus livros de prosa as citações em verso. comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos. faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina. o amor comeu as frutas postas sobre a mesa. bebeu a água dos copos e das quartinhas. comeu o pão de propósito escondido. bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água. (...) o amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala. o amor comeu minha paz e minha guerra. meu dia e minha noite. meu inverno e meu verão. comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."


[joão cabral de melo neto]