25.12.08

natal


quando todos me deixaram sozinho na sala, finalmente, pude me aproximar. tirar os enfeites. os laços. fitas. as lâmpadas. arrancar os galhos artificiais, um por um. quando todos me deixaram sozinho no meio da noite, finalmente, pude ter certeza: debaixo de tudo, um cacto. todos os anos, nós apenas escondíamos os espinhos.

16.12.08

exagero


por que tanto? você pode me desejar noites em claro, mas não precisa me obrigar a dormir em uma cama de pregos. você pode rasgar a minha pele, mas não precisa jogar sal em cima das feridas. pode me triturar aos poucos, mas não precisa soprar no vento aquilo que sobrou. você pode me fazer andar sobre o pântano, mas não precisa colocar uma carga sobre os meus ombros. você pode me atirar no mar, mas não precisa amarrar um peso em um dos tornozelos. por que tanto? você pode apenas me levar até o abismo, mas não precisa me empurrar. você pode apenas sumir para sempre, mas não precisa me dizer que, de repente, deixou de amar.

3.12.08

castigo


eu continuo aqui. apesar de ter enchido a lousa com a mesma frase, de ponta a ponta. de cima até embaixo, ouvindo risadas e cochichos. sujando de giz as pontas dos dedos. a mão. o uniforme. pagando o castigo com as bochechas vermelhas. suando por dentro. vergonha. eu permaneço aqui. com o gosto de sabão na boca lavada. com o amargo do palavrão tirado na marra. eu continuo no mesmo lugar. joelho marcado no milho. palma da mão roxa de régua. orelha torcida. tudo pago e eu aqui. esquecido. de cara pro canto. nariz na parede. e esse medo enorme de me virar e ter certeza de que todos foram realmente embora.