24.9.05

autoria


você pode até bater esse pé no chão, como fazia quando era criança contrariada. quando não ganhava seu doce, seu brinquedo, sua mesada. como quando abria seu pacote de presente e encontrava o que não tinha pedido. você pode fazer manha, bico, beiço. como quando o passeio era outro, a comida era outra, a música era outra e não a escolhida por você. como quando a sobremesa colorida só vinha depois do prato todo verde. chore. esperneie. berre. você pode agarrar a barra da minha calça. puxar minha camiseta. você pode chorar rolando pelo tapete. pode me xingar, ameaçar. você pode reagir, me bater, tentar me matar. pode quebrar as coisas da casa. há dezenas de copos nos armários. pratos de porcelana. xícaras de cerâmica. você pode encher este chão de cacos. pode bater as portas na minha cara. emburrar. cruzar os braços. você pode fazer qualquer coisa. mas essa caneta eu não devolvo. você não muda mais a minha vida. quem escreve essa história aqui sou eu.